
COBRACORAL é um projecto que entrelaça as vozes de Catarina Miranda (Portugal), Clélia Colonna (França) e Ece Canli (Turquia). Cada uma traz a sua prática vocal artística para dentro da espiral: a exploração coreográfica da oralidade de Miranda, as investigações de Colonna em torno do canto polifónico oriental e mediterrânico, e as experiências vocais expandidas de Canli. Daqui resulta uma trança a cappella que fia o tempo numa estrutura que mantém a coesão de um pulso comum através da variação dinâmica da reação e da adaptação.
Intricados jogos de hocketing, chamadas e respostas, e camadas de ostinati tornam-se os meios pelos quais COBRACORAL gera a sua textura sonora distintiva — uma verdadeira teia para a voz. Enquanto uma voz insiste num fragmento melódico de duas notas, outra ocupa os espaços rítmicos deixados em aberto pela primeira, construindo assim uma base harmónica sobre a qual a terceira pode cintilar. COBRACORAL explora ainda o potencial da voz através do uso de efeitos sonoros e do gesto, ampliando a experiência auditiva e sugerindo que os limites da voz se estendem até domínios eléctricos e corporais. O movimento do corpo modula o som, tal como um eco artificial, um delay ou uma alteração de tom. Um trio vocal moderno, COBRACORAL é simultaneamente eletrificado e eletrizante.
Um padrão geométrico colore a superfície que compõe COBRACORAL, tal como o grupo de serpentes de onde retira o nome. Cada canção desenvolve o seu próprio padrão respiratório — um rito comunal centrado no movimento do ar — onde os motivos de inalação e exalação se tornam sistemas que desdobram o tempo em expressão vocalizada. Uma observação atenta da passagem temporal da respiração, das suas dinâmicas lúdicas e vitais, é a sua prática de comunhão. Há uma responsabilidade partilhada que atravessa este mosaico espiritual. Canto ritualístico, ciclos hipnagógicos e técnicas vocais contemporâneas moldam a paisagem rítmica, imagética e narrativa que é COBRACORAL.