
Gustavo Costa é um músico e um artista de inúmeros talentos que se guiam por uma exploração constante dos limites da escuta. Teve formação musical desde cedo, mas o seu percurso transcende em muito as fronteiras da música. É baterista, mas também construtor de instrumentos, criador de novos sons, escultor sonoro, professor, programador e – diria eu – um generoso impulsionador da música contemporânea e da arte sonora que hoje se faz em Portugal. Tudo isto sem que, em algum momento do seu percurso, tenha perdido o foco ou apontado as luzes na sua direcção.
Talvez seja este o motivo pelo qual, só agora, volvidos 30 anos de ligação intensa com o universo musical, colaborações diversas e criações extraordinárias, Gustavo se decidiu a apresentar o seu primeiro disco a solo com o instrumento que o acompanha desde criança – a bateria e a percussão. Entropies and MimeticPatterns é um registo surpreendente, que nos dá a sensação de uma concentração paciente, meticulosa, como se toda a sua trajectoria tivesse convergido para chegar até aqui. À entropia, que representa desordem e aleatoriedade, Gustavo responde com padrões que ligam gesto e emoção e que provocam uma sensação de presença, de proximidade. É apenas um músico em frente ao seu instrumento, mas a comunhão permanece, como se uma vez mais, fosse a partilha que orienta os seus propósitos.
É dessa sensibilidade exploratória que se compõe este disco, um registo pessoal onde Gustavo organiza o caos e a energia percussiva em ritmos complexos e inesperados, um reflexo do seu universo sónico particular em que somos convidados a entrar.