Mariano de Melo, aka Marian Sarine, é multi-instrumentista, activo como baterista/percursionista dos DEAFKIDS, toca sintetizadores e percussões ao vivo com o artista de vanguarda electrónica Felinto, e desenvolve ainda o seu trabalho a solo (sob o nome Sarine).

Tendo já colaborado em várias ocasiões como músico ao vivo em projectos como Test (percussão), Rakta (bateria/percussão), bem como enquanto contraparte percussiva do cuatro de B. Gold no duo Cavalo Serpente, Sarine assume como conceito de base – e como destino – a força do ritmo, entendido como o princípio mais ancestral da música e, ao mesmo tempo, o seu recurso mais sofisticado. Uma procura pelos aspectos naturais e transcendentes do transe cíclico – onde a sua energia motriz e objectivo último são a conquista do autoconhecimento.

O álbum parte de temas antigos e novos, gravados num antigo órgão brasileiro dos anos 80. Recorre a alguns padrões de arpejo (nomeadamente Jazz Rock e 16 Beat), em desvios improvisados que se desprendem da justaposição de ideias rítmicas sobre tais padrões. Utilizo-os como ponto de partida para explorar outras possibilidades de groove, incorporando as notas sobrepostas que o órgão acrescenta como mais um elemento de improvisação – uma espécie de auto-jam. O disco inspira-se em várias fontes, desde as experiências de Charanjit Singh na modernização de ragas tradicionais do Norte da Índia para um contexto electrónico, até mestres organistas/sintetistas de diferentes pontos de África, como Hailu Mergia, Mammane Sani e Hama.

O álbum trabalha também a manipulação de recursos limitados, imposta pelo período de quarentena, através de uma perspectiva lo-fi que incorpora a urgência e a restrição que marcam o momento presente.