Enquanto o país arde de tédio, os Sereias mergulham de vez no jazz-punk que promete ser hino de uma campanha que urge trazer para as ruas. No centro, a poesia mordaz de A. Pedro Ribeiro, poeta maldito, anarquista, ex-candidato a Presidente da República, em choque constante com os ambientes turvos, electrónicos e imersivos dos mascadores sónicos que o acompanham. Neste formato avantgarde, punk, free jazz e post-rock, que provoca a erupção voluntária de sentidos, na liberdade da execução e na negação dessa mesma postura convencional. Uma (in)disciplina “zappliana” que nos leva para os territórios de This Heat, Pere Ubu ou The Fall. E se os discos representam uma audácia aviltante nessa multiplicidade de perfis, a “praxis” ao vivo é não só direta, intempestiva como canibal e exasperante. O equilíbrio mantém-se à base dos extremos e tão desconfortáveis no palco se parecem, que acabam por manter o foco no público.